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Delfim Pinto dos Santos
Filósofo, pedagogo e professor universitário (n. Porto 1907, m. Cascais
1966). Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas (1931), foi aluno na
Universidade do Porto de Leonardo Coimbra, considerando-se seu discípulo,
devido à influência que o pensamento do mestre exerceu sobre o seu, a
nível da inquietação e endereço filosóficos. Após a licenciatura, como
bolseiro, estuda na Áustria e na Inglaterra. Em 1937 regressa a Portugal,
para logo partir para a Alemanha, como leitor de Português, na
Universidade de Berlim. Aqui desenvolve uma acção profunda e esclarecida,
centrada na promoção da cultura portuguesa, dando a conhecer a poesia, a
literatura, a história dos descobrimentos. Ao mesmo tempo frequenta os
seminários de Nicolai Hartmann, bem como contacta com o pensamento de M.
Heidegger. Tanto um como outro serão referências permanentes do seu
pensamento. Doutora-se na Universidade de Coimbra, onde apresenta como
tese de doutoramento uma reflexão intitulada Conhecimento e Realidade
(1940), concorre a professor extraordinário da secção de Ciências
Pedagógicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a
dissertação Fundamentação Existencial da Pedagogia (1946), é professor
catedrático em 1950.
A sua obra, publicada em três volumes pela
Fundação Calouste Gulbenkian, é de matriz essencialmente filosófica e
pedagógica, embora se preocupe também com temas de cultura, de
actualidade, reflectindo acerca das preocupações do seu
tempo.
No
que diz respeito à sua obra destacamos as mais significativas: Situação
Valorativa do Positivismo, de 1938, que corresponde ao relatório final
como bolseiro, nela apresenta o resultado final da investigação que levou
a cabo acerca do neo-positivismo lógico, que critica, ainda que de um modo
construtivo.
Da Filosofia, de 1940, é certamente a sua reflexão
central, no que diz respeito às intuições fundamentais da sua concepção
filosófica, pois é aqui que emerge, de um modo muito claro, a sua
compreensão existencial da filosofia, salientando as noções de situação,
condição humana, recusa do sistema, em que filosofar é, fundamentalmente,
reconhecer as perplexidades, é encontrar-se perante a aporeticidade do
pensar, aspecto que confere à sua meditação um carácter iminentemente
interpelativo.
Conhecimento e Realidade, de 1940, é uma obra de
carácter gnosiológico, onde apresenta uma teoria do conhecimento centrada
no pensamento categorial e na qual o conceito de verdade emerge como
axial. A obra debate a questão de como estabelecer a articulação entre a
realidade e a apreensão pelo sujeito dessa mesma realidade, para concluir
acerca da impossibilidade de uma adequação, aspecto que implica
estabelecer os limites da relação entre realidade e
conhecimento.
Fundamentação Existencial da Pedagogia, de 1946, é
uma obra onde menciona a sua concepção existencial da pedagogia, centrada
nas noções de liberdade, criatividade e experiência pessoal.
O
Pensamento Filosófico em Portugal, de 1946, reflexão acerca da tradição
filosófica portuguesa, onde procura identificar de um modo muito breve o
essencial do pensamento de cada um dos 19 autores que menciona, desde
Pedro Hispano a Leonardo Coimbra.
Acerca de alguns dos pensadores
há claramente uma preocupação valorativa, por exemplo quando considera
Silvestre Pinheiro Ferreira como o autor mais interessante do século XIX
português e Leonardo Coimbra como o mais importante do século XX.
A
fim de caracterizarmos o seu pensamento, teremos de ter em consideração a
sua formação filosófica, estribada em dois momentos, que serão ocasião
para um desenvolvimento autónomo do seu modo de pensar. Por um lado, o
ascendente do magistério de Leonardo Coimbra, aspecto fundamental e que
está bem patente num dos seus primeiros escritos intitulado Dialéctica
Totalista de 1933 e onde está in nuce aquilo que irá ser posteriormente a
sua filosofia, por outro, a influência que exerceu a escola alemã, veja-se
por exemplo a reflexão inspirada pelo pensamento de N. Hartmann, Das
Regiões da Realidade de 1938, bem como o relevo que confere à
fenomenologia e a sua clara adesão a um pensamento existencial de cunho
heideggeriano. A sua reflexão filosófica constitui-se, sem dúvida, como um
contributo decisivo para a filosofia portuguesa, denotando preocupações
acerca do homem como ser pessoal, daí o seu interesse pela pedagogia.
Filosoficamente é de salientar a sua inquietação existencial e metafísica,
tão próxima de Leonardo Coimbra, mas ao mesmo tempo pessoal, porque aberta
às questões da sua época.
Bibliografia Obras Completas, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, vol. I, 1971, vol. II, 1973, vol. III,
1977.
Sobre Delfim Santos Botelho, Afonso, Apologia do Mestre,
Lisboa, "Teoremas de Filosofia", 1969, Caeiro, Francisco da Gama, Da
Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa, Lisboa, "Revista da Faculdade
de Letras" 1983. Ganho, Maria de Lourdes Sirgado, O Pensamento de Delfim
Santos, Braga, "Itinerarium", 1989; Da Filosofia de Delfim Santos, Lisboa,
Escola Delfim Santos, 1993. Marinho, José, Delfim Santos e a Filosofia
Situada e A Ontofenomenologia em Delfim Santos, Lisboa, "Estudos sobre o
Pensamento Português Contemporâneo", 1981. Paszkiewicz, Cristiana
Abranches de Soveral, A Filosofia Pedagógica de Delfim Santos, Vila Real,
1997. Teixeira, António Braz, Aproximação ao pensamento filosófico de
Delfim Santos, Lisboa, "Espiral", 1966. Octogésimo Aniversário do
Nascimento do Professor Delfim Santos. Comemorações Lisboa, Centro
Cultural Delfim Santos, 1990.
Maria de Lourdes
Sirgado
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