Victor Hugo

Os Miseráveis... Os Miseráveis... Os Miseráveis... Os Miseráveis...

Victor Hugo nasceu em Besançon em 1802. Filho de um general do Império, sentiu-se atraído, ainda muito novo, pela literatura clássica francesa do séc. XVIII. Começou por escrever poemas ao jeito clássico (Odes), mas depressa se tornou um inovador, de modo que, com a  publicação do Prefácio de Cromwell e de Orientales e a representação de Hernani, passa a ser considerado o chefe do romantismo françês. De 1830 a 1840 o seu prestígio atinge um ponto culminante. Publica, então, Nossa Senhora de Paris, quatro compilações de poesia lírica: Les Feuilles d' automne, Les  Chants da Crépuscule, assim como alguns dramas: Marion de Lorme, Lucrèce Borgia, etc. Mais tarde é exilado nas ilhas da Mancha e são dessa fase os poemas satíricos Châtiments, de mistura com a lírica de La Légende des Siècles, Os Miseráveis e Os Homens do Mar. Morreu em Paris em 1885. Objecto de acesas polémicas no seu tempo, a obra de Victor Hugo acabou por influenciar a literatura de muitos países, entre os quais Portugal, onde marcou escritores como Mendes Leal, Lopes de Mendonça , Guerra Junqueiro , Eça de Queirós, e muitos outros.

Esta obra de Victor Hugo (Os Miseráveis) é sem dúvida alguma uma obra excepcional, nunca me esquecerei da primeira vez que a comecei a ler. Desde o primeiro volume (e eu li Os Miseráveis em 5 volumes), apercebi-me que tinha ali leitura ao meu gosto e conforme ia devorando as páginas mais me apetecia continuar a ler. E foi assim até ao último volume, tanto que, quanto me lembro, acho que sempre que podia pegar nestes livros não quis ler mais nada. Aconselho vivamente a comprarem esta obra. É excepcional!!!... Aqui fica um niquinho do 5º volume.

A Descida ao cano de esgoto... À força de olhar, qualquer coisa, apenas vagamente perceptível em tal agonia, desenhou-se e tomou forma a seus pés, como se a intensidade daquele olhar  tivesse conseguido fazer aparecer a coisa desejada... João Valjean acabava de avistar, a poucos passos de distância, na base da barricada pequena, sempre tão inexoravelmente guardada e vigiada pela parte de fora, e por baixo de um monte de pedras que em parte a escondia, uma grade de ferro, colocada ao nível do solo. O caixilho de pedras a que estava segura havia sido arrancado, de modo que a grade estava meio despregada. Através dos varões  descortinava-se uma escura abertura, semelhante ao cano de uma chaminé ou à abóbada de uma cisterna. João Valjean correu para a grade, com o espírito iluminado  pelo clarão da sua antiga ciência  das evasões. Desviar as pedras, levantar a grade, pôr aos ombros o corpo de Mário, inerte como um cadáver, descer com este fardo às costas segurando-se com os cotovelos e os joelhos por aquela espécie de poço, felizmente pouco profundo, deixar cair por cima da sua cabeça o pesado alçapão de ferro, sobre o qual tornaram a rolar as pedras arrancadas, apoiar os pés numa superfície lajeada, três metros abaixo do solo, tudo isto foi executado por João Valjean como se vivesse em pleno delírio, isto é, com força de um gigante e a agilidade de um tigre; todos estes movimentos tiveram lugar no curto espaço de apenas alguns minutos.

João Valjean viu-se então com Mário, sempre desmaiado, numa espécie de comprido corredor subterrâneo, onde tudo era silêncio absoluto, paz profunda e completa escuridão. A impressão que outrora ele experimentara ao cair na rua do convento renovou-se-lhe então. Com a diferença, porém,  de que então se tratava de salvar Cosetta e agora buscava a salvação de Mário. Naquele momento mal ouvia por cima de si, como um vago murmúrio, o temeroso tumulto da casa de pasto, que a tropa acabava de tomar de assalto.

Era no encanamento de Paris que João Valjean se encontrava. Outra semelhança de Paris com o mar: do mesmo modo que no oceano, também ali pode desaparecer um mergulhador. A transição era assombrosa. Em plena cidade, João Valjean saíra da cidade... e, num abrir e fechar de olhos, sem gastar mais tempo do que o necessário para levantar e fechar  uma tampa, passara da luz do dia para a obscuridade mais completa, do meio-dia para a meia-noite, do estrondo para o silêncio , do turbilhão dos trovões para a estagnação do túmulo e, por uma pirueta do acaso muito mais prodigiosa do que a da Rua de Polonceau, do perigo mais extremo para a segurança absoluta!

Queda súbita num subterrâneo; desaparição na sentina de Paris! Deixar aquela rua onde a morte estava em toda a parte, trocando-a sem transição por esta espécie de sepulcro, onde, todavia, residia a vida, foi uma singular experiência para João Valjean, que durante alguns segundos ficou atordoado, de ouvido à escuta e estupefacto com o que consigo se passava.

A armadilha da salvação abrira-se-lhe subitamente debaixo dos pés. A bondade celeste como que o apanhara à má fé... Adoráveis ciladas da Providência!  

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